Saiba como o Desenho Animado começou no Brasil:

Bem vindu!
Aqui você fica sabendo como é feito um desenho animado tradicional (2D), suas etapas e sua evolução. Algumas biografias resumidas do pessoal da
animação. Aqui tem art concept, layouts, story boards, models, memórias, repertório de Glória Costa animadora e seu professor e amigo, o animador Mario Lantana, links de animação. Vai encontrar também ilustrações de Glória Costa. Curiosidades e muito mais!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As Etapas de um Desenho Animado

Fantasmagorie animação de 1908
Depois que foi criado o cinema como o conhecemos hoje, as pessoas que eram ilustradores quiseram também usar essa forma de arte para dar vida ao que criavam. Assim foi criado o Fantasmagorie em 1908. Depois, com o advento do som os filmes tinham além de movimentos  a melodia, os sons e as falas. 
Toda uma tecnologia e experiência foi desenvolvida por pessoas que tinham uma mente criativa e, além de ter a arte no sangue, eram inventores. Mas o meu objetivo é descrever um processo que Disney desenvolveu na área de desenho animado. E esta se tornou a partir dele um setor especializado dentro do cinema.
Após fazer algumas animações de curta metragens que ficaram famosas como "animações espaguete", pois os braços e pernas dos personagens eram moles e ondulantes.  

Mas como se faz uma produção destas?

Quem começou a definir os passos necessários para executar uma produção de filme animado foi com certeza Roy e Walt Disney. 
Story Board
Para não perder a coerência das sequências de cena e poderem desenvolver todo o filme dando valor à narrativa e valorizando todas as ações que melhor contassem a história, manter o tempo planejado para a história, desenvolveram o story board. Assim não perdiam tempo animando cenas desnecessárias, nem lhes faltava tempo para a narrativa no final.

Nessa época os desenhos tinham apenas trilha sonora que os personagens marcavam o ritmo dançando, Depois dos curtas musicados os personagens desenhados começaram a falar nas telas de cinema. Então a execução do Story board ficou mais necessário e preciso. A ação era ensaiada na frente de um espelho com um cronômetro. Muitas vezes Disney contratou um ator para atuar para os seus animadores esboçarem o personagem. Ou iam a um bosque ou zoo filmar os animais ao vivo, também o levavam ao estúdio para estudar seu comportamento e anatomia.
Estudos de anatomia clássica desenvolveram os layouts para Branca de Neve, Pinocquio, Dumbo, Bambi e geraram as Silly Sinphonies, curtas com experiencias sobre o que se podia criar de efeitos para sugerir velocidade, ilusão de movimento real, tempos de ação. Iluminação na mesa de filmagem. 
Cell do encontro dos Anões com Branca de Neve dentro do quarto deles
Havia uma deficiencia de cores para pintar os cells e a textura das tintas  era frágil para aderir no acetato, tudo isso teve que ser desenvolvido por Walt que foi aos fabricantes de tinta e ao lado deles criou uma paleta de cores até então nunca usadas! Ele contribuiu para essa  renovação incentivando a pesquisa de novos corantes e uma tinta com textura que aderisse ao acetato sem craquelar ou descolar antes da filmagem.  

Normalmente a trilha sonora do filme é feita depois de elaborado o Story Board para marcar a ficha de som que facilitaria ao animador a execução da sua cena ou sequencia de cenas, para fazer o personagem dançar no compasso da música ou falar de acordo com a fonética marcada na ficha de animação.
Para fazer o filme da Branca de Neve não havia sido criado ainda a estrutura dos campos Multiplanos. Então se troncos de árvores estavam na frente do olhos, e no fundo haviam montanhas distantes, para criar a profundidade necessária, o tronco era feito num overlay recortado, cheio de detalhes de musgo e texturas da casca com um efeito de desfoque por pinceladas, na clareira os personagens agiam e ao fundo, atrás mais arvores e arbustos as montanhas também desfocadas mas presentes, quase se confundindo com o céu. 
Detalhe de uma Tabletop
 http://blog.animaticus.com/2008/01/27/history-revisited.aspx 
Na filmagem a câmera deslizava por duas colunas de aço por meio de manivelas que a posicionavam para o campo de filmagem. os holofotes eram acionados e ajustados com o fotometro para banharem o acetato sobre o cenário com o overlay da árvore em primeiro plano. A cada dois frames filmados os acetatos eram trocados e o abturador da câmera colhia dois novos frames.
Após a filmagem era retirado o rolo de filme 35mm da câmera e enviado para a revelação. Da revelação já era feita a mixagem da trilha  sonora com as imagens. 
Animê Spirited Away
Espirited Away foi todo animado da forma clássica e, quando vemos seu macking off, o seu criador Miyasaky fez toda a trilha sonora depois de realizada a filmagem das cenas, inclusive as locuções com sons incidentais e diálogos. Os dubladores viam as cenas e reproduziam as falas nos tempos das cenas. como os dubladores que refazem diálogos para trocar a linguagem original de um filme estrangeiro.










terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ETAPA, dois Comerciais e uma Fase da Animação Clássica


Esta coleção de comerciais do ETAPA foi feita pelo Estúdio Start Filmes. Glória Costa cresceu assistindo esses comerciais na tv, numa época em que enchia cadernos com seus desenhos. Naquela época nem pensaria na possibilidade de animar um comercial desses. No entanto, depois de estagiar no departamento de Quadrinhos do Mauricio de Sousa e aprender animação com Mario Lantana, ela entrou na Start um tempo após sua morte.
Planejamento, Animação e Filmagem por: Glória
Lá evoluiu de intervaladora para animadora, no tempo em que trabalhou nesse estúdio planejou uma sequencia do primeiro filme do Grilo Feliz e sua turminha. Entre a produção desse longa metragem e os comerciais. Ela trabalhou na produção de dois desses comerciais presentes nessa coletânea.
Este comercial com a silhueta masculina correndo em fundo preto teve suas cenas planejadas  por Glória Costa na Start e ela animou e só teve intervalação na cena final onde o personagem rompe o vidro e corre em camera lenta.
Este trabalho foi pintado com dermatográfico branco em papel preto. Quando ele sai da escuridão e vai para o campo iluminado e verde tem pintura em acetato com contornos de dermatografico para dar o volume do corpo. Ela também acompanhou a filmagem na table top.

Rotoscopias de cenas ao vivo por Glória
Neste outro comercial do Cursinhos ETAPA um casal de guitarristas foi filmado ao vivo e os frames foram copiados em papel-foto e montamos o movimento, pondo folhas de layout por cima foi tirado o traço de cada frame.  
Essa rotoscopia foi pintada em acetato e as cores do filme ao vivo não tem nada a ver com a filmagem. Depois esse mesmo guitarrista foi reaproveitado para compor parte de uma cena de um comercial da Sharp, ela então foi trabalhada de outra forma. 
Neste comercial do ETAPA, a rotoscopia do guitarrista ficou a cargo de Glória Costa.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Brasil Animado em 3D é Criação Brasileira!

Este filme é a mais nova criação de Mariana Caltabiano.  Feito no Brasil e por profissionais brasileiros, é o nosso primeiro longa metragem com captação de imagens em terceira dimensão, ou 3D. E vai ser exibido em telas próprias para esse tipo de filme no começo de 2011. Tem cenas ao vivo e os personagens interagem nas cenas, outras são totalmente  feitas com cenários desenhados, animação limitada feitos da forma tradicional: numa mesa de luz, com papel e lápis, mas com finalização no computador. 
Glória foi convidada para a  pré-estreia do Brasil Animado e na volta resultou estas palavras. O filme Brasil Animado tem um humor leve e gostoso, foi fácil identificar os paulistas no "Stress" e todos os brasileiros no "Relax" muito boa sacada! Ele tem uma animação simples e fácil, uma narrativa fluída e todo o nosso Brasil na tela. É um trabalho redondinho. Na nossa medida para passar em qualquer lugar do mundo, não só aqui! A história mostra os personagens Stress e Relax viajando pelo nosso Brasil à procura de uma árvore que é um tesouro nacional. Enquanto Relax leva Stress para todo canto, nós viajamos juntos nessa aventura.  
Mariana Caltabiano teve um orçamento de 3 milhões para produzir esse filme viajando com 7 pessoas. Sua  maior preocupação era alguma comparação com o filme Avatar, porém esta produção tem outro perfil. A história não é uma ficção científica e o conteúdo é brejeiro, é  brasileiro! Possui narrativa clara, pitoresca pois mostra o que temos de mais bonito, as paisagens coloridas e o charme do nosso humor. 
Brasil Animado também está em formato de filmagem convencional, então este também passará para o público que não tem condições de pagar para ver em salas de 3D. Assim como o Gui e Estopa que foi veiculado  em lugares carentes, este filme também irá a lugares onde assistir um filme é coisa rara.
 

Essa cineasta estudou em N.Y., trabalhou em agências como a DM9 e a Talent, escreveu um livro infantil que deve ser delicioso de saborear se pudermos assaltar a geladeira da mãe dela, já que é lá que guarda a capa que criou com balas de verdade.
Cresceu apreciando as revistinhas de Mauricio de Sousa e hoje tem a sua própria produtora que está produzindo muito para a alegria de toda a garotada que assiste a Cartoon Network. Provavelmente deve ter  preenchido vários dos passatempos que Glória Costa criou para aquelas revistinhas.
Ela tem uma visão interessante e uma postura muito aberta para dispor sua obra tanto em salas de cinema para o público pagante, como também veicular para um público carente que não veria um filme sem  uma iniciativa como a sua. Isso significa que ela não está preocupada só com a renda do filme!  
Mariana deseja educar atravez de seus filmes e seriados, e penso que seu raciocínio está certo! O cinema encanta, o desenho animado envolve as criançada e até os adultos, é claro que uma mensagem bem colocada fica registrada no íntimo da criança!

Como Mariana, também acho que proibir comerciais animados por causa das crianças é um contra-senso. Regular a produção e o conteúdo de um comercial animado sim, determinar que as mensagens nesses comerciais animados devam respeitar o universo infantil e promover educação sim. Podemos criar o comercial que venda um produto e ainda  usá-lo para educar e orientar. 
As crianças continuam a ver tv e a assistir comerciais de filmes ao vivo, por acaso estes não têm suas mensagens absorvidas pela mente infantil? Os comerciais antigos tinham essa preocupação! Basta ver o filme dos "Cobertores Parayba", cujo jingle aconselha a criança a dormir sem que a mãe mande.

Muito bem Mariana! São empresários do seu porte e atitude que o Cinema Brasileiro precisa! Você e a equipe estão de parabéns por essa produção e por nos colocar na história! Vejo em você um valor muito grande para o mercado de animação! Você e sua produtora está fazendo animação para a Cartoon Network, criando para eles e isso é sinônimo de aquecimento do mercado da animação para o Brasil. Este longa tem a linguagem da Cartoon Network, então lá fora eles  vão aceitar. A animação é limitada, mas é atual. 
Uma hora você mesma vai querer fazer uma animação mais requintada como a clássica. Com oceanos e ondas mais animadas. E no nosso mercado esses profissionais de animação clássica estão dispersos. Você sabe escolher e contar a história, é isso que faz um filme tanto quanto a animação! 
 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

De uma Pílula ao Faber Castell

Hoje quero falar de dois comerciais de outro Estúdio, o Start Filmes, que hoje é conhecido como Start Anima. Na época em que este filme, o Faber Castell  - Aquarela, estava sendo feito, Glória Costa já era considerada animadora. Começara como assistente de Animação, mas lá os departamentos eram divididos e em salas diferentes. O departamento de animação reunia os animadores e os intervaladores ficavam agrupados em outra sala. O elo de dupla que ela fizera com o animador Lantana lá não havia. 
Se o intervalador recebia uma cena para intervalar, ele se deslocava para onde estava o autor da animação e tirava suas dúvidas e recebia instruções. O intervalador ainda trocava ideias com o animador. Se a cena era complexa, ou tinha muitos personagens, ia parar nas mãos do intervalador mais capacitado e pegar cenas fáceis era só para ocasiões em que haviam várias e os principiantes estavam ocupados... E Glória fora contratada para resolver as cenas complicadas de intervalar. 

Seu trabalho foi recompensado quando entrou um comercial muito simples e no entanto com uma certa dificuldade. Era apenas uma esfera como o conhecido smile que representava uma pessoa que se divertia numa festa, bebia, ficava alegre e acabava bêbada e por fim nauseada e com ressaca, por fim ela melhorava e sua carinha fundia com o comprimido Engov. Um personagem assim sem detalhes, sem braços ou pernas para enfatizar a expressão é geralmente o que assombra um animador, porque necessita de uma boa solução para comunicar e o espectador entender... E este "smile" nem sequer falava para facilitar a situação!
Os animadores começaram a conversar entre si e empurrar um para o outro esse comercialzinho. Um dos animadores que ficava na sala da Glória tocou no assunto e ela na hora disse que o faria tranquilamente. O animador Alex se dispoz a falar com Walbercy, o dono do estúdio. E esta foi sua primeira oportunidade para animar e decidir toda a cena. Ela calculou de acordo com os compassos da música, com vira o Lantana fazer muita vezes. 
"- Lantana, como você marca os compassos da música para saber onde colocar as pontas da animação para o personagem dançar sem sair do ritmo? - eles estavam fazendo o comercial da maionese Rosê e a turma da Mônica dançava.
- Glória, quando a ficha vem para nós, ela mostra os compassos da canção onde estão as notas tônicas e as átonas. - e ele marcava o compasso com a mão e solfejava algumas notas musicais. - Preste atenção na minha mão, em cada 'ta' tem uma nota tônica, enquanto desloco minha mão o compasso  acontece... ta, ta, ta, ta-ta... ta, ta, ta, ta-ta... olhe na ficha. - e ele marcava as notas onde estavam."
BAR SHEET -  ENGOV
Agora com um bar sheet* do Engov nas mãos, ela agradeceu em silencio seu maestro animador e seguiu a marcação de sua ficha de animação ouvindo a trilha.  Assim o comprimido Engov foi animado, pintado e filmado.
- Agora falta o cliente aprovar.- disse Walbercy.
Nada mais foi dito por ninguém que assistiu o comercial do Engov depois de revelado e mixado com som. No dia seguinte o cliente estava lá para assistir. Walbercy saiu por alguma razão e deixou o rapaz que cuidava da filmagem repetindo a película para o cliente. Ele entrou na sala em que Glória estava e, de repente o cliente entra na sala procurando o Walbercy empolgado:
- Está ótimo nem eu pensava que pudesse ficar assim! Está muito bom! - e ambos saíram para tratar dos assuntos ligados ao filme.
Então a partir deste dia Glória passou a ser oficialmente uma animadora.

Mas o comercial da Faber Castell quando entrou na Start foi uma polvorosa. Cada um queria uma cena para animar. Ele devia ser desenhado com estilo infantil e na hora de resolver a criação do gato todos os animadores fizeram um esboço e o apresentaram... para ser reprovado. O filho de Walbercy acabou fazendo em casa para o pai o layout que foi animado pelo estúdio. 
A técnica usada para artefinalisar esse filme foi pintar pela frente do acetato com látex branco deixando a textura bem lisa e uniforme e depois foi colorido por cima com guache para dar a impressão de aquarela. Todo o Estúdio se empenhou numa parte desse filme e todos os animadores, intervaladores e artefinalistas tiveram que se esmerar para ele acontecer. 
As canetas, lápis, potinhos de guache foram todos fotografados, as fotos reveladas, recortadas e montadas em acetatos para se movimentarem sobre a animação e parecer que riscavam e pintavam. Até a secretária foi posta para recortar fotos de tantas que os animadores precisavam montar. Hoje faríamos esse comercial com a ajuda do computador, escaneando os lápiz ou fotografando e jogando as fotos dentro da cpu para resolver as cenas.



*bar sheet: ficha de som para marcar os tempos entre a ação e o som da locução e/ou música, ela geralmente servia para fazer o story board** para apresentar ao cliente. 

**story board: marcação das cenas para narrar a história de um filme animado. Define-se nele os cortes de cenas, zoom, enquadrações e tempo da ação.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Durante as Últimas Eleições

Se há uma coisa que Glória Costa detesta é política! Não é porque não entenda, entende o suficiente para saber que estão fazendo mais pelos egos deles que pelo povo. O raciocínio deles está passando pelas próprias preferencias para chegar no trabalho em prol do país... E o fogo cruzado de propaganda e propósitos vinha de todos os lados... E os amigos também enchiam sua caixa postal de comentários. 
Mas, a notícia que mais incomodou foi a de que os humoristas deviam evitar de fazer alusões a políticos, mesmo depois de passarmos pela vergonha de saber de dinheiro em cuecas... enfim! Esse assunto é só para dizer que Glória fez uma charge, uma de suas raras piadas sobre o assunto do dia, daquele dia do boicote ao humor. Não se falava outra coisa e aquilo podia gerar censura em todos os setores das artes. Teatro, televisão, tiras de jornal, charges... Imaginem o Aroeira sem poder caricaturar esses políticos por causa de uma lei?! Então ela fez a sua modesta contribuição para o mundo das charges.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Como empacotar a Mônica num filme

Esse trecho do longa metragem As Aventuras da Turma da Mônica, onde a Mônica é "empacotada", foi animada quase que exclusivamente por Mário Lantana e intervalada por sua assistente Glória Costa. A parte que ele pegou para animar tem a Mônica dentro da caixa. 
A dificuldade dessas cenas era simplesmente a Mônica estar dentro de um cubo que o Cebolinha tinha que proteger e salvar, tanto a si como a dentuça que estava paralizada. E durante o movimento, a única vez que o cubo se deformava, é no início onde ela é envolvida pelo raio e depois o pacote cai no chão perto do Cebolinha.
Fizeram a cabeça da Mônica de massa e encaixaram num cubo nas proporções dela, e o Lantana assumiu a execução dessa animação. Toda a sequência em que o Cebolinha corre com a caixa, cai no abismo e essa caixa flutua  dentro da nave de fuga, foi feita pelo meu animador favorito.
Mas todos já sabiam que o Lantana nem precisaria disso para realizar seu trabalho. Mesmo assim, deixaram a maquete com ele, que se poz a desenhar e cantarolar suas óperas. Ele ia concluindo as cenas e entregando para sua assistente Glória, que ia intervalando e apresentando a ele para correção e aprovação. 
O trecho em que o Cebolinha cai de um precipício... e a caixa gira no ar, hoje tal movimento poderia ser feito no computador criando a caixa em 3D, mas naquela época não havia essa tecnologia à disposição das pessoas nem nos Estados Unidos. Só os militares trabalhavam com o IBM e este não fazia artes, só cálculos. Qualquer animador poderia até mandar filmar a caixa em todos os ângulos e movimentos para depois fazer a rotoscopia*... porém aqui isso não aconteceu! Apenas por falta de tempo hábil para executar o trabalho.
Vocês que cresceram se lembrando de ter assistido o longa e hoje até podem estar num estúdio treinando ou mesmo animando, sabem que temos já a anos uma forma de fazer um line-test** que é o preview da animação. Sabem que assim todas as imperfeições podem ser corrigidas antes de finalizar e compor o movimento com cenário e som. Mas o Lantana e a Glória não fizeram nenhum preview de suas cenas. Como disse em um artigo anterior, não dava tempo para fazer tal teste!


*rotoscopia: é a técnica de pegar uma cena filmada ao vivo, ou uma sequência de fotos sugerindo a ação, transferir os contornos para o papel e a partir dessa cópia fazer a animação clássica. Uma cena pode ser interpretada, por um ator que faz o movimento e sobre o corpo dele sobrepõe-se o personagem. Respeita-se apenas o movimento. No caso de uma maquete filmada, reproduz-se a forma e damos a cor daquele elemento da cena.

**line test: é uma filmagem prévia com uma webcam do traço a lápiz dos layouts da cena de acordo com a ficha para ver o movimento e conferir se é preciso mudar alguma coisa antes de escanear e pintar.
 


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

As Aventuras da Turma da Mônica - "Um Amor de Lantana"


Esta sequência do primeiro longa metragem do Mauricio de Sousa, As Aventuras da Turma da Mônica, foi feita por Mario Lantana e sua assistente Glória Costa intervalou. Ele ficava solfejando a marcha fúnebre e desenhando na sua mesa. À vezes levantava, caminhava pela sala, de um lado para outro, sua expressão era de preocupado, sério, muito concentrado.
- Está tudo bem Lantana? - perguntou uma vez um assistente de animação de outro animador.
Ele cortou o cara e falou:
- Depois a gente fala. Não é nada.
Sua assistente achou interessante aqueles modos. Viu que o Lantana nem prestara atenção para a expressão do novato. O intervalador voltou para sua mesa e não se falou mais a respeito, mesmo assim quem conhecia Mário Lantana, sabia que ele estava totalmente absorto na animação de sua cena. Se havia um problema era a expressão do seu personagem. Nas ninguém havia notado que Lantana ficara contente com a reação do novato. 
A cena demorou para ser feita, é um trecho longo de um ratinho que estava desapontado por perder a suposta namoradinha. Ele caminha e tem momentos em que se vc desligar o som e cantarolar a marcha fúnebre, vai notar que o personagem está andando dentro do compasso da música clássica que ele solfejava.
Foguinho e Lantana
Aquela situação do Lantana interromper a pergunta que alguém lhe fazia, era porque as expressões, o caminhar era um estudo de comportamento para desenvolver a cena de animação. Realmente não era nada. E, quando sua ação despertou o desejo de ajudar no rapaz, ele ficou exultante! Era aquela forma  de agir que ele deveria impor ao personagem. Resolvida a dúvida ele não saía da mesa nem para tomar café.
Algumas vezes sua assistente levava o café para ele, ou chá de erva cidreira que ela preparava e levava para o departamento. Ele não falava muito, se tinha trabalho ficava envolvido nele. Era mais lento que os outros animadores em resolver a cena. Em compensação elas saíam impecáveis sem pencil-test!
Depois da intervalação aprovada por ele, podia enviar para arte final sem receios. A ficha de animação estava preenchida e com anotações para a sua assistente, para a arte-final e para a filmagem. Não era preciso chamá-lo em algum departamento para esclarecer dúvidas. Ao contrário, se ele achasse que alguém não entenderia algo, era ele quem ia dar alertas de como fazer e proceder. 
E esta é mais uma característica daquela época, se você quisesse fazer um teste de filmagem da sua cena para ter certeza de que o movimento estava correto, o "timing" (as marcações de tempos) tinha ficado ok, era preciso fazer uma filmagem com filme super 8, que, para quem não sabe, era um película de 8mm. Filmado era preciso mandar revelar na KodaK e esperava-se 15 dias para ver o resultado... Detalhe: não havia laboratório de revelação no Brasil, o super 8 era enviado para fora do país!
Lantana e a sequencia final de "Um Amor de Ratinho"
Muitas, senão todas as vezes os animadores recebiam um comercial para animar e tinham um prazo em média de uma semana para fazer a animação e o filme revelado tinha que ser entregue em um mes! Contava-se nesse prazo a marcação de ficha de som, animação e intervalação, arte final, filmagem, mixagem do som e revelação. Então na maioria das vezes descobríamos o que tínhamos feito ao rodar na moviola o filme e o copião com o som... os animadores se reuniam para assistir e analisar seu trabalho. Para na próxima evitar alguma marcação de tempo para os personagens.
Mas Lantana olhava, ficava quieto, não dava palpite na cena de ninguém sem que pedissem. E avaliava o que poderia fazer novamente na próxima animação. E quando ele criava alguma fórmula nova na animação, se ele gostasse do resultado repetia em outras cenas.




filme

No Compasso de Mário Lantana

Mário Giovani Lantana

Este é Mario Lantana, italiano, natural de Pádua, veio para o Brasil com 27 anos, logo depois que terminou a II Grande Guerra e seus estudos na Universidade de Pádua. Trazia uma lata com um pedaço de filme em 35 mm, que ele mesmo havia animado e filmado na Itália com a iluminação do sol e uma câmera emprestada. Um diploma de geômetra e muitos sonhos.
Fabricou a mesa, a régua de pinos, os pinos para fixar a sua animação. Montou no quintal e filmou com a luz solar. Ele mesmo havia animado, feito o cenário e finalizado para poder filmar. Usou pinos duplos, pois sua furadeira era de escritório. E como não havia acetato para sua produção, literalmente de quintal… Ele teve que usar papel vegetal. razoavelmente transparente que permitia ver alguns traços do cenário por baixo dele. Era um filme modesto, engraçado e muito simples. Já existia cinemascope, mas o filme dele era em preto e branco.
A paixão dele por cinema de animação nascera ao assistir Branca de Neve e Pinocquio.  Depois, quando a II Grande Guerra irrompeu ele,  sozinho, escondido no porão de sua casa para não ser posto no exército de Mussolini, ficava treinando animação com o mesmo papel, enchia de esboços de esqueletos de personagens, diagramas e notas musicais para marcar os tempos, de personagens finalizados  e assim desenvolveu-se como animador. Terminada a Guerra pôde voltar a escola e se formou geômetra pela Universidade de Pádua.
Não se sabe  como ele desenvolveu todo seu potencial de animador. Detalhes de toda essa aventura solitária durante a guerra não sabemos, ele não contou. Só que desenhava muito dentro de casa, era uma forma de não enlouquecer com a guerra. 
E ele costumava marcar todo o tempo de sua cena cantarolando, geralmente era o hino da Inglaterra para cenas calmas e devagar. E usava marcação de óperas que ele ficava solfejando e desenhando. Algumas vezes os animadores levantavam da cadeira com gestos de impaciencia e saíam para tomar um café... Era claro que eles já estavam cheios das óperas murmuradas. 
Sua assistente ria por dentro, para ela preferia que fosse uma música clássica a um rock ou metalica! e Lantana notava e reduzia o tom. Às vezes parava de desenhar e movimentava a lapizeira, estava regendo a animação.
Mas um dia ele entrou no estúdio e simplesmente falou:
- Eu fui salvo por um punhado de tomates! – e pousou suas coisas, um casaco e a carteira de documentos em cima da prateleira e se sentou para trabalhar enquanto todos riam e o rodeavam:
- Bom dia, Lantana… Mas como é que é essa história!?
Ele empurrou a armação do óculos e repetiu a mesma frase, causando risadas gerais. Todos haviam parado o que faziam em suas mesas de animação e insistiram em saber os detalhes:
- Agora conta! Como os tomates salvaram sua vida?
Ele olhou a todos na sala, estavam todos da equipe na sala, inclusive sua Assistente Glória.
Ele começou  contar em tom sério:
- A guerra tinha começado e eu ainda não tinha 18 anos, mas já podia ser pego nas ruas para servir o exército, só que eu não queria. Então eu ficava nos porões de nossa casa. Só saía de noite para conseguir alguma comida. um jornal. Eram tempos difíceis até para os italianos. Em casa chegamos a discutir por um pedaço de pão. As mulheres (as irmãs e a mãe dele) o comeram e eu não. Mas elas agora com a guerra não me obrigavam a tocar piano, porque o barulho podia atrair a atenção dos soldados na rua. – ele fez uma pausa para alinhar os cabelos ruivos já com alguns fios embranquecidos. – Mussolini ainda não havia se aliado a Hitler… E numa das noite em que eu me esgueirava pelas ruas e ruínas, um soldado me chamou: “você é judeu?” ele viu meu cabelo ruivo e fiquei gelado, “não” eu lhe disse e mostrei meus documentos…
Nessa altura a maioria ainda sorria do relato, porque o italiano ruivo, ainda com seu leve sotaque e seu jeito de fazer piada, contava aquele episódio de um modo cômico. Ninguém sabia quando era sério o assunto ou quando ele estava gracejando! E ele fazia piadas muitas vezes de si mesmo.
- …Então fui levado para a delegacia, estava preso por não ter me apresentado para o alistamento!  O pão que levava para casa ficou caído no chão e tomei um telefone* na orelha. Mas nos meus documentos eu era ainda menor de idade, tinha 16 anos, então fizeram meu alistamento e fui para o exécito. Fiquei preocupado por não poder avisar a minha família, mas no quartel pude comer todo dia. Comia bem e treinava marchar e atirar. Então nos puzeram num caminhão e fomos atirar nos alemães.  Mas nem os alemães podiam nos matar e nem nós a eles quando chegamos no lugar. – de novo ele coçou a cabeça tentando lembrar os detalhes da sua história. – Mussolini estava iniciando negociações com Hitler e sabíamos que Il Duce gostava da ousadia do alemão maluco. Mas os soldados alemães podiam nos prender e foi o que fizeram, prenderam nossa tropa num galpão de fazenda. A porta não ficava fechada porque os alemães ainda não sabiam se nos consideravam amigos ou inimigos. E ficava um alemão na entrada e cada vez que ele sumia, eu solfejava um compasso. O mesmo compasso! pom pom pompo-pom, pom pom pompo-pom…
Nesse momento todos cairam na gargalhada da marcação de tempo que era a mesma que ele usara muitas vezes para animar.
- Mas Lantana vocês resolveu cantar! Você por acaso ia animá-lo?
Ele retrucou, como se mal ouvisse o gracejo dirigido a ele:
- Mas claro que eu  marcava o tempo que ele sumia e tornava a aparecer! Eu precisava saber quanto tempo ele ficava longe! E todos reclamaram do meu solfejo assim como vocês sempre fazem, e um amigo meu, de Padua também, me cutucou e falou: “você vai fugir, é isso”. Então eu combinei com ele, tínhamos 4 a 5 minutos para correr até o bosque em frente e sumir. Dos outros ninguém quiz ir pois todos sabíamos do encontro de Hitler e Mussolini e todos acreditavam que iam ser salvos. Só que eu nunca quiz servir o exército e matar gente. E eu era o único homem na minha casa desde que meu pai tinha ido para a guerra, precisava avisar minha mãe onde eu estava. Depois até me entregaria para minha polícia e voltaria para o exército pois podia alegar que fugira dos alemães se me pegassem!
- E o que o alemão fazia toda hora que sumia? Ele  estava com caganeira?
Mais uma vez desatataram todos a rir. O Lantana disse:
- Ele adorava tomates! Havia um nó na madeira do galpão e o empurrei para fora e por ali pude ver que o alemão enfiava a mão num barril de tomates e saboreava tres ou quatro e depois voltava para seu posto. Então eu e meu amigo ficamos esperando, assim que ele chegou no barril, nós corremos para o bosque. Mas corremos tanto que não víamos para onde íamos! Estávamos dentro do bosque e quando vi íamos voltar para o galpão de tanto correr. Eu parei meu amigo, sentamos  e respiramos. O alemão estava em seu posto novamente e não havia percebido nada! Nós estávamos livres! Saímos do bosque com passo acelerado e rumamos para Pádua. Eu queria fazer o caminho mais longo e mais seguro por dentro de bosques e isso ia levar mais de dois dias. Pela estrada se fossemos caminhando daria um dia de viagem. Ele insistiu em ir pela estrada e então nos separamos. Só havia um lugar para nos reencontrar e combinamos de esperar o outro na ponte que vai para Pádua. Quem chegasse primeiro,  ficaria oculto e esperaria o outro. E demorei tres dias para chegar na ponte, porque eu me escondia toda vez que via uma tropa.
- E você não procurou soldados italianos?
- Eu queria ver minha mãe  e minhas irmãs que deviam estar desesperadas por meu sumiço! Sabia que ninguem fora lá para avisá-las.
- Então continua Lantana, você encontrou seu amigo na ponte? – perguntou sua assistente.
- Encontrei…  Nunca tinha visto um morto até então e vi meu amigo com a barriga cortada por uma rajada de metralhadora e só pude fechar os olhos dele e seguir para minha casa.
- Mas nem cobriu ele com pedras? – um dos animadores ficou inconformado.
- Era la guera. Eu não podia sequer pensar em fazer isso e denunciar que o outro fujão que era eu estivera ali! Eu só pensava nos vivos de minha família! Depois soube que todo meu pelotão havia sido fuzilado. Não só o meu pelotão, outros também foram fuzilados!  E no dia seguinte a essa mortandade Mussolini e Hitler estavam se dando as mãos. É como eu disse, um punhado de tomates me salvou.
- Para você acabar animando no Brasil! E você não quiz ir para a Disney? Nunca pensou nisso?
- Meu dinheiro não dava para pagar a passagem até lá quando saí da Itália. Aqui pelo menos eu ia viver num país maravilhoso, amigo e sem guerras! No navio que tomei acabou meu dinheiro para comer e tive que  trabalhar na cozinha e  aproveitava para comer e assim poder guardar algum dinheiro para quando descesse em terra.
Lantana no Estúdio da Black&White&Collour
Não se sabe o que lhe passava pela cabeça,  pois acabou se suicidando numa sexte feira santa, em  primeiro de abril de 1984. Se sentia-se culpado por não ter segurado o amigo ao lado dele, ou o que... Muita coisa ele não revelava, mas quando veio para o Brasil já não conseguia dormir normalmente sem remédios. E a profissão que tanto amava, sempre exigiu dos profissionais que passasse noites em claro para entregar um filme no prazo. Ele ria e dizia que ter insonia no final era uma vantagem.
Ao chegar, aportou em Salvador e uma semana depois chegava em São Paulo. Aqui fez o primeiro comercial animado do “O remédio da Mulher,  Regulador Xavier 1 e 2″, filme com fotos montadas, onde os vidros entravam e dançavam no ritmo da música e que se perdeu em um incendio muitos anos depois em sua produtora MK. Seu primeiro filme feito ao sol da Itália também queimou. Mas ele continuou produzindo, sempre em São Paulo.  Outros que ficaram famosos foi A abertura original do programa Os Trapalhões de 1976, O bolo California, Turma da Mônica com vários deles coloridos, Poupança Haspa, Maionese Rose e o último deles, A Opinião que as Donas-de-Casa têm do Elefante da Cica. Ele participou do Primeiro longa da Turma da Mônica com sua última assistente Glória. E na época em que nos brindou com esse relato, estávamos fazendo o primeiro longa do Maurício de Sousa.

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Fantasmagorie de Émile Cohl


    Este foi o primeiro filme animado que se tem notícias. Émile Cohl o criou por volta de 17 de agosto de 1908. Na época todos ficaram pasmos com o movimento e a simplicidades dos traços que, sem som transmitiam uma graça atravez do palhaço e diversas situações metamorfoses de fomas. Assim ele criava uma obra que perdura até hoje. Estava criado o desenho animado, um filme com imagens que narram uma história, mas atores!

Antes dele os chineses tinham o costume de faze jogo de sombras usando a luz, depois Leonardo da Vinci criou no seculo XV um instrumento  que foi aperfeiçoado por Giambattista Della Porta um seculo mais tarde que ficou conhecido como "câmara escura" que consistia numa caixa com uma lente onde as luzes entravam e produziam sombras. A imagem refletia no fundo invertida.

Depois, por volta do seculo XVII, a famosa lanterna mágica foi criada por um alemão e era um artefato que mais parecia um abajur com silhuetas pintadas e uma vela acesa dentro, Athanasius Kirchner fazia girar a peça em torno da luz da vela e as imagens se deslocando parecia um balé estático e ciclico.


Como era Pintada a Animação antes do Computador

Inicialmente em outro link* escrevi sobre o filme do Anélio Latini. Como o filme foi feito em preto e branco, resolvi explicar como eram feitas as pinturas dos acetatos para a cena ir para a filmagem. Depois pretendo colocar um glossário sobre alguns termos que irão surgindo nos artigos.
comercial da Varig - Anos 60
Para pintar um personagem monocromático vc precisava fazer um paralelo com as cores do mundo real. E no departamento de arte final de uma produtora, isso era habitual até os anos 70. O Pantone comparativo com as cores reais e as gradações de látex e corante preto estava sempre à mão e os tons de cinza deviam sugerir ao cérebro do espectador as cores.
Os melhores acetatos sempre foram os importados e as fornecedoras já os enviavam cortados, para uso em campo 12 normal ou duplo, para as produtoras de propagandas. http://www.memoriadapropaganda.org.br/Acervo/AcervoTKS.html
Tudo o que se conhecia e se divulgava como cinema de entretenimento no Brasil era Disney desde o final da década de 30. Mas Disney só passava nos cinema e na televisão muitas vezes a ligávamos e encontrávamos muitas vinhetas, algumas pelo que me lembro eram de Norman McLaren. Era mais manchas e movimentos de caleidoscópio.  Essas vinhetas haviam sido feitas  no meio da década de 30 com formas  orgânicas pintadas direto nas películas de 35mm foram feitas por Len Lye e o primeiro “stop motion” que conheço também feito em 1933 por Len Lye (http://www.youtube.com/watch?v=eQYZPwEdPoo) e depois Norman McLarem na década de 40 foram a base para desenvolver películas sem atores para entretenimento.
Norman McLaren animando direto na Table-Top
Aqui no Brasil fazia-se muitos comerciais de animação, de stop motion, desde os anos 50. Como já mencionei em outro post, Mario Lantana havia feito o primeiro comercial animado no Brasil. Mas não era desenhado, ele na verdade desenhou o Story Board definindo a ação dos vidros de Regulador Xavier 1 e 2 para mulheres.  Ele controlou na fotografia os angulos que ele desejava, quantas fotos e ao chegar da revelação, elas foram recortadas cuidadosamente e montadas em acetado uma a uma. depois filmadas como se filma uma animação, dois frames* de cada vez. Lamentavelmente essa propaganda queimou-se num incêndio e não há cópias conhecidas!
Mas a evolução da chegada da tv a cores no Brasil, fez com que  os  estúdios tivessem que dispensar o corante preto e passar a fazer as tintas coloridas para dar cor na animação brasileira. Os contornos do personagem ainda era m na maioria filetados a  nanquim para pintar, mas logo depois começou a ser xerocado para ser pintado o com látex colorido. Agora o vermelho era vermelho e a pele era cor de pele! Os cenários ainda eram pintados com papéis importados, pincéis ingleses e guaches também vindos de fora do país.
acetato xerocado e pintado






* frame: fotograma do quadro da película do filme, para cinema tem o tamanho de  35mm, para filmagem caseira era usado a bitola de 16mm e 8mm.

*Leia mais no oSabeTudo.com: O Início da História da Animação no Brasil | O Sabe Tudo

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Começo da Animação no Brasil -1

Lantana no Estúdio da "Black"
Tenho a intenção de colocar aqui os conhecimentos de Glória Costa sobre a história da animação no Brasil. Seu início como assistente do animador italiano Mário Giovani Lantana. A convivência no departamento de animação da Black&White&Collour prod. com os colegas e o aprendizado da arte da animar, ou como chamavam esse departamento e toda a produtora: Black. Glória na verdade começou nos Estúdios do Maurício de Sousa, fazendo estágio, logo depois de sair do colegial. Havia acabado de fazer 18 anos quando ela se sentou na prancheta e começou a descobrir a técnica de ilustrar história em quadrinhos desenhando a turma da Mônica em 1980. 

Por um ano o treino requeria observar distribuição de massa da ação dos personagens, estudar as proporções de cada personagem para reproduzir exatamente cada um dos bonecos criados pelos estúdios do Maurício. Após oito meses de treino já tinha alguns passatempos criados por ela dentro do estilo da turma da Mônica de acordo com a faixa etária dos que liam as revistinhas. Até então não havia sequer ouvido sobre desenho animado feito no Brasil. Não conhecia o mercado e nem estivera num curso de ilustração.
Então um dia o Maurício reuniu seus departamentos no salão onde ficavam ela e os desenhistas de HQ. E para que todos o vissem enquanto falava subiu num banco de madeira. Sua alegria era evidente ao comunicar seu novo contrato. Ele havia fechado com a Embrafilme um contrato para fazer desenho animado e pretendia fazer 10 longa metragens com a Turma da Mônica. Depois de todos ouvirem os detalhes que ele queria participar a nós, timidamente Glória levantou a mão e perguntou se podia trabalhar nos longas. 
Todos a olharam e parecia que ela dissera algum absurdo. Glória até pensou que eles se sentissem relegados por ela querer ir para outro departamento. Até a Alice, que era a chefe do departamento demonstrou um certo desapontamento. Mas no final até concordou que, como a Gloria já estava treinada para fazer os personagens da turminha podia ser bom para não perder a qualidade do trabalho. 
Mais tarde naquele dia uma pessoa veio avisar que um dos animadores aceitara treiná-la. Aceitara? O que queria dizer?! E no dia seguinte ao chegar no departamento de animação não havia ninguém por lá e ela até pensou que era mesmo bem diferente do departamento de quadrinhos... Teve que voltar para a prancheta para não ficar olhando para as paredes. Dali a pouco... por volta das onze horas, aparece um ruivo de óculos, magro, cinquentão procurando pela estagiária que queria fazer animação.

A primeira coisa que ele queria saber era se ela já havia feito desenho animado alguma vez. Claro que não... E o italiano ficou feliz! Ele havia ficado contente porque assim podia treinar uma pessoa sem vícios trazidos de outro estúdio de animação. 

E esse foi o início dessa dupla,  o animador Mário Lantana e sua assistente Glória Costa que durou até a morte dele em abril de 1984. E Glória entendeu logo no primeiro dia que a surpresa dos seus colegas do departamento de quadrinhos era que ela seria a única mulher no Brasil fazendo desenho animado. A outra que antes havia estado alguns anos na animação fora a Geni, mas ao se casar saíra da profissão.